terça-feira, 9 de abril de 2013

Grávidos!


Desde o primeiro dia da gravidez que passei a dizer a que estamos grávidos.
Esta forma de falar surgiu-me de um impulso totalmente altruísta: quando todas as pessoas à nossa volta parabenizavam apenas a Joana pela gravidez e eu era deixado a um canto sozinho e abandonado para morrer, à fome e sede de mimos. A Joana também gostou da ideia de estarmos grávidos, e assim nós continuamos a referirmo-nos à gravidez. Até hoje.  
Hoje eu cheguei a casa completamente farto de Deus e do mundo, por isso fui directo à garrafeira e escolhi um bom tinto do Douro. Respirei fundo, desliguei o telemóvel e esqueci-me de onde tinha o portátil. Deitei comida ao gato, para não me chatear, abri um frasco de azeitonas e voltei a fechar porque me fez lembrar a comida do gato, e por isso preferi um fatia de queijo e um pouco de broa de milho. Peguei no saca rolhas e estava a preparar-me para abrir a garrafa quando a Joana entra na cozinha e, encostada à moldura da porta, diz, com a maior calma e ironia do mundo, não podemos, estamos grávidos… Todo o peso da co-responsabilidade da gravidez caiu então sobre mim, e foi como se o mundo todo, ou pelo menos os países do Benelux, tivesse ruído por debaixo dos meus pés. 
Argumentei, claro que argumentei. Que na realidade ela é que estava grávida e não eu. Que aquilo era apenas uma força de expressão sem sentido prático nenhum e que eu beber vinho em nada afetaria o bebé, mas é claro que o resultado foi eu ouvir um discurso com mais de trinta e cinco mil frases, das quais só recordo vagos ecos de palavras como responsabilidadesolidariedadesacrifício, conjunto, sexo, consciência e Manchester United (no final acho que já só estava a ouvir a tv da sala).
Se até ao dia de hoje eu tinha dificuldade em contar a gravidez em semanas, agora vou passar a contar o meu drama em dias. Como um alcoólico anónimo prestes a receber uma medalha pelo tempo de abstinência.  

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